quinta-feira, 16 de julho de 2009

O Valor da Comunicação em Tempos de Negócios Globais

A palestra O Valor da Comunicação em Tempos de Negócios Globais aconteceu no dia 02 de julho último, no café do Expo Unimed, na Universidade Positivo. O foco principal do evento foi colocar o tema da comunicação transnacional, mediada pela língua e pela tradução, em pauta.

Abordei alguns temas relacionados às mudanças culturais, sociais e políticas relacionados à globalização dos mercados, à Internet e à interconectividade, a partir de comentários sobre o trailer do filme Babel. Meu objetivo foi contextualizar os impactos que essas mudanças acarretaram na nossa maneira de interagir, a partir da necessidade de as pessoas se comunicarem com culturas diferentes. Além disso, enfatizei as dificuldades do processo de comunicação transnacional e tentei trazer à tona o estranhamento e a diferença por meio de outros exemplos, como a apresentação de Jay Walker e o filme educativo da Australian Screen.

Falei sobre a comunicação empresarial transnacional e sobre como as empresas, no geral, estão pouco preparadas para lidar com os problemas de adaptação e adequação linguístico-cultural nos seus mercados-alvo. Apresentei o conceito de 'localização' seguido de alguns dados de pesquisa realizada pela Wordbank, empresa especializada neste tipo de serviço.

Encerrei a palestra fazendo um apanhado geral dos assuntos tratados e comentando a eterna busca do homem pelo entendimento através dos séculos. O eterno retorno a Babel.

Abrimos para comentários, trocas de experiências e perguntas e essa foi, sem dúvida, a melhor parte da noite. O público participou ativa e inteligentemente, superando todas as expectativas de participação.

O evento contou com a presença de aproximadamente 100 profissionais de áreas como marketing, comunicação e tradução, além de advogados, arquitetos e outros interessados no assunto. Todas essas pessoas tiveram a oportunidade de parar para pensar um pouco em como a tradução tem contribuído com a comunicação no mundo globalizado.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Spanglish - motivo de piadas do passado, nova língua ganha status de assunto sério

In un placete de La Mancha of which nombre no quiero remembrearme, vivía, not so long ago, uno de esos gentlemen who always tienen una lanza in the rack, una buckler antigua, a skinny caballo y un grayhound para el chase. Quem é familiarizado com os livros sabe tratar-se de um trecho de um dos maiores clássicos da literatura mundial: Don Quijote de La Mancha.
Êpa, espera aí, mas em que raios de língua está traduzido Cervantes? Um insulto a língua espanhola? Ou uma maneira rápida e eficiente de comunicação? E é aqui que começa a confusão.
As raízes do que hoje se conhece como Spanglish pode ser tão antiga quanto o Tratado de Guadalupe Hidalgo, em 1848, quando o México perdeu quase 2/3 de seu território para os Estados Unidos - detalhe importante: a população se foi com as terras. Quem conta essa história, baseada em pesquisas a respeito do assunto, é o professor Ilán Stavans em seu livro Spanglish: The Making of a New American Language, ainda sem tradução no Brasil. Stavans é professor do primeiro curso universitário de Spanglish na Amhearst University, em Massachusetts.
O Spanglish é uma mistura do espanhol com o inglês, como já se deve ter percebido. Entretanto, o mais curioso da história é que o que parece uma combinação aleatória de palavras escolhidas ao acaso, nos dois idiomas, é, na verdade, uma estratégia de comunicação. Quando um latino, morador do Bronx, diz: 'Te llamo para atrás' no lugar de 'I call you back' (numa tradução literal!) tem certeza de que será compreendido e isso, por si só, já é um grande indício de que a comunicação ocorreu sem ruído. Ou seja, para os participantes do processo de comunicação não há o estranhamento por conta da mistura de palavras em espanhol e inglês.
Em comunicação, chamamos esse processo de code-switch, ou troca de códigos. A troca de códigos, nesse caso, ocorre entre dois idiomas distintos, mas que fazem parte da mesma 'família', ou seja, a dos códigos linguísticos. É importante frisar que fazemos o code-switch constantemente e esse é um dos motivos que fazem com que a comunicação seja um processo fundamentalmente semiótico. Explico.
A capacidade humana de significar, de dar um sentido às coisas não é limitada pelos códigos, mas, sim, influenciada por eles - já que códigos são meios de transporte nos quais as mensagens vão e vem. A mensagem, que viaja para lá e para cá, seja em forma de palavras ou de imagens ou de fenômenos, não importa sua natureza, é transportada e transformada pelos códigos, mas o passo definitivo para sua compreensão é a interpretação e posterior significação que o receptor conferirá a ela.
No caso do Spanglish, quando um falante mistura os códigos linguísticos e tem certeza de que será entendido, ele conta com um outro fator que é o prévio conhecimento (ou será reconhecimento?) do código cultural que o aproxima do receptor da mensagem. Ser latino nos Estados Unidos significa muitas coisas que esses dois interlocutores simplesmente sabem. É o tal código não-escrito. A partir daí surgem mil e uma possibilidades não só de criação de novos símbolos (palavras incluídas!), como de novas significações.
Aliás, outra estratégia dos falantes do Spanglish é justamente criar novas palavras, como: rufo (que vem de roof, teto, em inglês), carpeta (carpet, em inglês e folder, em espanhol), ou parquear ( de to park, em inglês, quando o correto, em espanhol é estacionar). A lista de palavras é imensa e muito curiosa.
Tenho muito a dizer ainda sobre o Spanglish e também sobre novas línguas que têm surgido nesses tempos de globalização e internet, mas, hoje, fico por aqui.

terça-feira, 14 de julho de 2009

A importância de um nome

Huá Mei nasceu em San Diego, Califórnia, em 21 de agosto de 1999. Sua chegada foi muito festejada por seus pais, Bai Yun e Shi Shi, além de outras centenas de pessoas envolvidas direta e indiretamente com seu nascimento - afinal, de tantas outras tentativas anteriores sem sucesso, ela havia superado todas as adversidades e, finalmente, provado que a persistência da ciência não fora em vão. A imprensa do mundo inteiro noticiou a chegada do bebê e filas e mais filas de curiosos e entusiastas se formaram, semana após semana, do lado de fora da maternidade.
Conheci Huá Mei pessoalmente há quatro anos e posso afirmar que se trata de uma chinesinha gordinha, muito simpática e brincalhona. Comprei até um boneco de pelúcia feito especialmente para representá-la e o trouxe comigo para o Brasil. Assim como eu e minha família, várias outras famílias, do mundo inteiro, visitam-na todos os anos e também levam para suas casas Huá Mei de pelúcia e espalham sua história pelos quatro continentes.
O que Huá Mei tem de especial que desperta tanto interesse em pessoas de diferentes culturas e línguas se sua história é apenas mais uma, entre tantas, numa época na qual a ciência já venceu tantas batalhas referentes à reprodução assistida? A minha explicação: um nome que carrega sua história. Se esse filhote fêmea de urso panda não tivesse recebido um nome e junto com ele não fosse contada uma história, por mais simples que ela pareça, aposto que não haveria destaque nas manchetes dos jornais e revistas e que os visitantes do zoológico passariam com cara de paisagem pelo viveiro e não gastariam seus dólares comprando mais um bicho de pelúcia para ficar empoeirado no baú de brinquedos.
O nome distingue os seres de mesma espécie, carrega histórias e permite a perpetuação no tempo. Isso vale não só para seres e lugares, mas também para coisas e sentimentos.
Dar nome às coisas faz parte da cultura americana. As florestas têm nome, assim como as árvores nos parques, as montanhas, os vales, os picos, as cavernas, as trilhas, etc. No Parque Nacional das Sequóias Gigantes, na Califórnia, cada árvore tem seu nome: General Grant, General Lee, General Sherman...As crianças (e os adultos também!), quando visitam o parque, aprendem várias coisas sobre geografia, geologia, plantas e animais, conservação do meio ambiente, e, claro, história americana. Vivendo as histórias e as emoções que os nomes carregam, americaninhos e americanões se apossam de seu passado, presente e futuro e gravam em seus corações a grandeza e exuberância de seu país.
No Brasil, tudo parece muito diferente. Não sabemos o nome das coisas e isso não nos faz falta. Desafio você, que está lendo esse texto, a dizer o nome de um bicho qualquer do zoológico da sua cidade (se é que você já foi lá); ou de alguma árvore do parque que você frequenta; ou, talvez do teatro mais antigo do Brasil. Esqueceu, ou nunca soube?
Outra coisa comum para nós brasileiros é polarizar os estados da alma entre 'felicidade' e 'tristeza', como se nada houvesse entre esses dois pólos: decepção, angústia, frustração, solidão, espanto, expectativa, são sentimentos riscados de nosso vocabulário - cada vez mais restrito a mesma meia dúzia de palavras vazias, repetidas à exaustão. O perigo é que, por falta de um nome apropriado, os sentimentos, eles próprios, deixem de existir também.
De uns tempos para cá, além de não darmos a mínima importância para a denominação de seres, lugares e objetos, estamos desenvolvendo um estranho hábito de tentar mudar, inclusive, o nome genérico das coisas. Outro dia ouvi uma conhecida dizer que mudara a denominação de seu negócio de 'padaria' para 'confeitaria' porque achava que a palavra 'padaria' depreciava seu estabelecimento. Já ouvi também que era melhor encontrar outra denominação para 'museu' porque a palavra por si só já poderia espantar as pessoas (ahn?! como assim?).
É um espanto!