sábado, 18 de abril de 2009

Libras - A Língua Brasileira de Sinais


Gosto da idéia de aprender alguma coisa nova todos os dias. Aumentar o repertório é muito importante para alguém que,como eu, se dedica a pensar sobre comunicação. Além disso, é muito divertido e faz com que qualquer um se torne uma pessoa mais interessante.

Sempre me intrigou observar a conversa dos deficientes auditivos*. Costumo encontrar alguns grupos muito animados na porta dos cinemas ou passeando pelos shoppings. Muitos gestos e expressões incríveis pontuam as conversas, e, mesmo para quem não é versado em língua de sinais, algumas mensagens podem ser facilmente entendidas com um pouco de atenção e perspicácia. Várias vezes me peguei 'encarando' as pessoas para tentar entender um pouco seus gestos e, com isso, traduzi-los para a linguagem 'falada' - mas logo batia aquele constrangimento em pensar que poderia ser mal compreendida e passar por indelicada.
Ano passado, em uma das disciplinas do mestrado, conheci um colega na UFSC que pretendia fazer sua dissertação justamente sobre tradução de língua de sinais. Ficamos amigos e logo aprendi muitas coisas novas sobre o assunto.

Uma das primeiras coisas que aprendi foi que existe uma língua de sinais brasileira - a LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais). Até então, eu não sabia que cada país possui sua própria língua de sinais. Por exemplo, na Inglaterra tem-se a BSL (British Sign Language), nos Estados Unidos a ASL (American Sign Language), e assim por diante. E, como em toda língua viva, cada região de um mesmo país tem sua maneira de falar, suas gírias, seus ditados, etc. e tal. Atribui-se às Línguas de Sinais o status de 'língua' porque elas também são compostas pelos níveis lingüísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico.
A comunicação por meio da língua de sinaisnão é feita com palavras, mas por meio de conceitos, e não há uma correlação direta desses conceitos com a língua falada. Embora seja possível para um profissional treinado em interpretar a linguagem dos sinais traduzi-la para uma língua falada qualquer, tal interpretação não seria uma tradução direta, pois o jeito como uma pessoa sinaliza um conceito pode significar mais do que o sinal em si. O processo transcorre como na língua falada: a maneira como você vocaliza uma palavra e as expressões facias e o gestual que a acompanham podem transformar seu significado.

A história da LIBRAS começou ainda no Império, em 1856, com o conde francês Ernest Huet, que era surdo, e desembarcou no Rio de Janeiro com o alfabeto manual francês e alguns sinais. O material trazido pelo conde foi adaptado e deu origem à LIBRAS, cujo sistema foi amplamente difundido e assimilado no Brasil.
Por incrível que pareça, a LIBRAS só foi oficializada no país um século e meio depois, em abril de 2002. Nesse período, o Brasil trocou a monarquia pela república, teve seis Constituições e viveu momentos difíceis com a ditadura militar.

Em 1951, ocorreu o Congresso Mundial da Federação Mundial dos Surdos, no qual foi proposta a criação de uma linguagem unificada de sinais para facilitar a comunicação dos surdos no mundo todo. Em 1973, houve a tentativa de se criar um vocabulário de sinais padronizados. Esse vocabulário foi batizado de Gestuno, palavra de origem italiana que significa 'linguagem de sinal unificado'. A Gestuno contava, na época, com mais de mais de 1.500 sinais. Atualmente, a Gestuno é conhecida como a Linguagem Internacional de Sinais (ISL) e, apesar de usar um vocabulário padronizado, não há padronização gramatical ou de uso. Assim como o Esperanto, a ISL não 'pegou' e ficou longe de revolucionar a comunicação internacional, como se pretendia. A ISL não obedece o ritmo evolutivo das línguas naturais de sinais simplesmente porque foi uma língua criada artificialmente.

Somente em agosto de 2001, por meio do Programa Nacional de Apoio à Educação do Surdo, foram formados no Brasil os primeiros 80 professores preparados para lecionar a língua brasileira de sinais. A regulamentação da Libras em âmbito federal só se deu em 24 de abril de 2002, com a lei n° 0.436.

Caso você tenha gostado do artigo, não deixe de comentar. caso queira saber mais sobre o assunto, acesse: www.libras.org.br .

* O meu amigo, especialista em LIBRAS, me disse que os surdos gostam de ser chamados de surdos. Mas, por precaução, achei melhor optar pela expressão 'deficientes auditivos' antes que me acusem de preconceituosa.
PS: Não sei o que está acontecendo, mas não consigo formatar esse texto de forma alguma. Desisto!