sábado, 13 de dezembro de 2008

Revistas antigas podem ser consultadas na web

Em seu esforço para oferecer ao usuário mais conteúdo fora da rede, o Google anunciou hoje que publicará mais de um milhão de artigos de edições passadas de revistas, que poderão ser acessadas através do Google Book Search.

Os artigos de publicações americanas como "New York Magazine", "Popular Mechanics" ou "Popular Science" estão disponíveis só no serviço para buscar textos de livros, mas o Google espera poder oferecê-los no futuro dentro de seu site de buscas geral.

O serviço faz parte de um acordo entre o Google e dúzias de editoras que decidiram abrir seus arquivos site de buscas em troca de parte da receita pela publicidade que o buscador insere junto aos artigos.


Além de cópias digitais de algumas das principais bibliotecas do mundo e, agora, artigos de edições passadas de revistas, o Google oferece também há algumas semanas parte dos arquivos fotográficos da revista "Life Magazine".

Trata-se de dez milhões de fotografias que documentam os momentos-chave da história do século XX e que podem ser acessadas através do serviço de busca de imagens Google Image Search.

EFE
Leia esta notícia no original em:Terra - Tecnologia http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3385492-EI4802,00.html

Mundo online vende US$ 1 milhão ao mês em produtos virtuais

Até o momento, a recessão crescente não desacelerou as vendas de produtos virtuais, o que os executivos atribuem ao fato das pessoas passarem mais tempo em casa. O Gaia Online, mundo juvenil com sete milhões de visitantes por mês, vende mais de US$ 1 milhão em produtos virtuais mensalmente e espera um recorde de vendas em dezembro, disse o chefe-executivo da empresa, Craig Sherman. Um de seus concorrentes, o IMVU, também tem tido aumento de 15 a 20% nas vendas desde setembro.

Quer andar com os sapatos de camurça azul de Elvis Presley? Custa 50 centavos de dólar. Em uma economia em crise, um adolescente ou jovem de 20 anos poderia se dar esse luxo num mundo virtual como o Gaia Online, que vende uma série de acessórios digitais com o estilo da lenda do rock, incluindo seus sapatos de camurça azul, seu macacão branco com brilhantes (US$ 4) e seu topete (US$ 1,50).

Os mais jovens não familiarizados com Elvis podem preferir desembolsar US$ 2 pelo chapéu inconfundível de Justin Timberlake, ou US$ 3 pelos dois dobermans de Snoop Dogg para aumentar o coeficiente "descolado" de seus personagens, conhecidos como avatares.

Essa é a premissa por trás da Virtual Greats, uma empresa iniciante de Huntington Beach, Califórnia, que representa celebridades e grifes no florescente negócio americano de produtos virtuais. A empresa de um ano de idade atua como corretora entre Hollywood e os tecnólogos que administram mundos virtuais como Gaia, Whyville e WeeWorld, orientados ao público jovem.

O Facebook, rede social líder do setor, permite que os membros gastem dinheiro de verdade com o envio de presentes virtuais, e tem parcerias com corporações como Ben & Jerry's Homemade, que distribuiu 500 mil casquinhas de sorvete virtuais em abril como parte da promoção Dia da Casquinha Gratuita nas lojas.


Os consumidores estão apertando os cintos, mas ainda desejam se expressar e socializar com os colegas, dizem os executivos do setor. Produtos virtuais, como o Chihuahua de Paris Hilton ou a jaqueta de Timberlake, são uma maneira barata de chamar atenção.

"As pessoas pensam que estão sacrificando outras áreas e por isso se dão o luxo de gastar um dólar aqui," disse Charlene Li, analista de mídia social que já trabalhou para a Forrester Research. "Vale a pena? Depende delas."

Segundo a maioria das estimativas, os consumidores gastaram cerca de US$ 1,5 bilhão por ano em produtos virtuais ao redor do mundo. Tencent Holdings, uma empresa de capital aberto de mídia de Internet, com sede na China, é a líder do setor, com centenas de milhões em receita anual de produtos virtuais em jogos online e outros aplicativos. Empresas de Internet nos Estados Unidos estão ficando para trás.

Para as celebridades, o licenciamento de produtos virtuais é uma maneira nova de ganhar dinheiro e manter a popularidade entre o público jovem. A empresária de Snoop Dogg, Constance Schwartz, disse que não tinha idéia do que eram mundos virtuais quando a Virtual Greats a abordou neste ano, pedindo para que ela e sua equipe passassem uma semana explorando o Gaia Online.

Após ver tantos adolescentes gastando seu tempo e suas mesadas online, Schwartz explicou o conceito a Snoop Dogg. Ela disse que os produtos venderiam facilmente, pois Snoop Dogg havia sido um dos primeiros rappers a licenciar seu trabalho para toques de celular. A única exigência do cantor foi a de que todos os produtos fossem "fiéis a ele", das tranças de cabelo e pantufas caseiras aos pratos de frango e waffles do restaurante Roscoe, que ele freqüenta regularmente em Los Angeles.

Para a Elvis Presley Enterprises, os produtos virtuais são apenas mais uma gota no oceano - 250 empresas licenciadas ao redor do mundo vendem 5 mil produtos e promoções de Elvis, incluindo bonecos falantes, porta-balas e uma página do Facebook. "Elvis está em toda parte," disse Kevin Kern, porta-voz da empresa, que controla o nome, imagem e artigos relacionados à estrela do rock. "Por que não nos mundos virtuais?"

A Virtual Greats atrai parceiros como Snoop Dogg e Elvis Presley porque faz o trabalho de campo que nenhuma das partes - o detentor de direitos autorais ou o operador do mundo virtual - deseja ou tem tempo de fazer. De um lado, a empresa entra em contato com celebridades e grifes, negocia licenças e agrega talento; do outro, une o mercado normalmente fragmentado dos mundos virtuais sedentos por fontes de receita.

Dan Jansen, ex-chefe de mídia global e prática de entretenimento do Boston Consulting Group, lançou a Virtual Greats em parceria com a Millions of Us, uma agência de marketing de Sausalito, Califórnia, que constrói mundos virtuais. As duas empresas compartilhavam a idéia de que os mundos virtuais necessitavam de fontes de receita diversificadas e não tinham presença no mercado de produtos de celebridades e grifes. O Omnicom Group, firma de marketing e propaganda, e o banco Allen & Company, investiram um valor não divulgado na Virtual Greats.

Produtos virtuais têm margens de lucro de 70 a 90% porque seus custos com estocagem, reprodução e distribuição são baixos. Contudo, para lucrar é preciso um grande volume de vendas. No ano que vem, a Virtual Greats espera representar 30 mundos virtuais e mais de 50 artistas.

A empresa negocia o licenciamento de personagens como Ferris Bueller com um estúdio cinematográfico e os direitos sobre camisetas de times com ligas esportivas. Grifes de luxo como Gucci, Prada e Chanel também estão sendo abordadas para terem seus produtos representados online.

Um desafio para a Virtual Greats e seus parceiros é criar legitimidade para grifes online e ao mesmo tempo assegurar que a oferta dos produtos não seja excessivamente ampla. Sherman disse que o Gaia usa "formas de raridade forçada" ou edições limitadas dos itens. Com o tempo, esses itens podem comandar um nicho especial no mercado secundário, em que os membros comercializam seus produtos com moeda virtual. Por exemplo, uma auréola dourada do Gaia que não é mais produzida foi vendida por US$6 mil no eBay, ele disse.

De forma similar, a Virtual Greats percebeu que estipulou preços muito baixos para alguns itens, como a cratera de impacto do Hulk, que era originalmente vendida por 50 centavos de dólar e passou a custar seis vezes mais no mercado de usados do Gaia. Em seus meses de teste, a Virtual Greats se deu conta de que as pessoas preferiam itens de grife mais caros a itens mais baratos e genéricos. Além disso, os itens maiores, e mais fáceis de se ver, são mais populares que os pequenos.

Produtos virtuais licenciados provavelmente serão apenas um pequeno nicho dos negócios. Itens genéricos representam uma porção enorme do mercado de produtos virtuais e promoções patrocinadas pelas companhias, como as casquinhas da Ben & Jerry no Facebook, que provavelmente se tornarão mais importantes à medida que os negociantes tentarem estender suas grifes às redes sociais.

A crise econômica pode fazer com que as pessoas repensem sua noção de gastar dinheiro de verdade para que suas personas ficcionais tenham um topete do Elvis ou um agasalho do Snoop Dogg.
Contudo, Jansen afirma que as pessoas sempre desejarão um pouco do glamour das grifes. "Talvez você não possa comprar uma bolsa da Louis Vuitton, mas pode ter a versão virtual," ele disse. "São luxos acessíveis nessa economia em dificuldade."

Tradução: Amy Traduções
The New York Times
Leia esta notícia no original em:Terra - Tecnologia http://tecnologia.terra.com.br/interna/0,,OI3386584-EI4803,00.html

Internet supera televisão na Espanha, afirma estudo

Levantamento afirma que internauta espanhol passa mais tempo conectado do que vendo TV

Areila Navarro - Reuters


MADRI - A Internet superou a televisão como o meio de comunicação mais consumido na Espanha em 2008, afirma levantamento divulgado nesta sexta-feira pela empresa de pesquisa Mediascope.

O estudo afirma que na Europa 60 por cento da população se conectam à Internet por uma média de 12 horas por semana e que na Espanha o tempo de acesso aumentou em 16 por cento desde 2007.


Segundo a pesquisa, o internauta espanhol fica conectado por uma média semanal de 12,1 horas, enquanto o tempo em que passa diante da televisão é de 11,7 horas.

O tempo em que a população espanhola fica na frente de um computador aumento em 20 por cento desde 2004 e a quantidade de internautas que se conecta diariamente à Web, cerca de 56 por cento, cresceu cinco por cento desde o ano passado.

A atividade que os espanhóis mais fazem na Internet é envio de e-mails, seguida por buscas e redes sociais. Enquanto isso, na Europa, as buscas ocupam o primeiro lugar, seguidas por e-mail e sites de conteúdo gerado pelos próprios internautas.

O levantamento, porém, afirma que existe um consumo simultâneo de mídias, já que cerca de 23 por cento dos internautas vê televisão enquanto está navegando pela Web e cerca de 21 por cento faz isso enquanto ouve rádio.

Em relação aos dispositivos, cerca de 32 por cento dos espanhóis utiliza o celular para se comunicar via mensagens curtas (SMS), email ou redes sociais, sem necessariamente recorrer a uma conversa.


Fonte: www.estadao.com.br

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Ex-catadora de papel monta biblioteca com mais de 22 mil livros

Essa notícia é um tanto quanto antiga (nov 2008), mas achei muito importante dar um pouco mais de quilometragem a uma iniciativa assim tão rara e inesperada.

Fonte: Portal G1 - 26/11/2008

Fernanda Calgaro

A ex-catadora de papel Vanilda de Jesus Pereira, 45 anos, que cursou só até a 6ª série do ensino fundamental, nunca imaginou que um dia chegaria tão longe. No início, há 20 anos, os livros cabiam em poucas caixas embaixo da cama. Hoje, ela coordena a Biblioteca Comunitária Graça Rios, na entrada da favela Paquetá, em Belo Horizonte (MG), que tem um acervo de cerca de 22 mil livros. "Nada foi planejado. Fui fazendo o que era possível", diz Vanilda.

O projeto foi um dos 15 finalistas do Prêmio Vivaleitura 2008, uma iniciativa do Ministério da Educação, do Ministério da Cultura e da Organização dos Estados Ibero-Americanos (OEI). A premiação ocorreu em São Paulo há duas semanas.

"Acabamos não recebendo o prêmio de R$ 30 mil, mas, só com o troféu de reconhecimento, já fiquei muito feliz." Porém, perguntada sobre o que faria se o dinheiro tivesse vindo, ela não hesita: "Iria rebocar as paredes da biblioteca, que ainda estão no tijolo, trocar os cinco computadores, que são bem antigos, e consertar a máquina de xerox".

Na biblioteca, que funciona num galpão, também são dadas aulas de reforço escolar para as crianças mais novas e de preparação para os jovens que vão prestar vestibular. O local funciona ainda como uma espécie de creche. Diariamente, umas 30 crianças são deixadas de manhã pelas mães, que retornam no final do dia para buscá-las. O projeto conta com a ajuda de voluntários e o apoio de diversas empresas locais, além de eventos promovidos para arrecadar fundos.
Filha de pais analfabetos, Vanilda conta que sempre gostou de ler, mas não tinha acesso a livros. Aos 14 anos, quando trabalhava como babá para uma família, a patroa a demitiu após ver que ela lia um livro sem autorização. O título da obra? "A Escrava Isaura".

"Fiquei chateada, mas aquela situação foi um empurrão para mim." Vanilda, então, comprou, claro, "A Escrava Isaura" e "Éramos Seis". "Eu comprei porque queria terminar de ler o livro!" E não parou mais. No final dos anos 80, ela passou a ajudar crianças da região onde morava com o dever de casa. "Muita gente começou a fazer doações. E o acervo foi crescendo."

Da experiência amarga, Vanilda não guarda nenhum rancor da ex-patroa. "Hoje, ela vem retirar livros aqui e a neta dela é voluntária da biblioteca. O acontecido foi uma lição de vida para mim e para ela."

Solteira e mãe de seis filhos, Vanilda diz que simplesmente faz a sua parte. "Se a gente for esperar pelo outro, as coisas nunca acontecem", afirma. "Se você não consegue sair do lugar, mas consegue dar um empurrão para que outro consiga sair, então já está valendo a pena", diz.

A biblioteca Graça Rios fica localizada na rua Glauber Rocha, 334, Paquetá, Belo Horizonte. O telefone é (31) 3498-1547..

Duet Marketing vence Top de Marketing pela 6a. vez



A Duet Marketing, empresa do Grupo Duet, recebeu, na última quarta-feira, o 6o. Top de Marketing de seus pouco mais de 9 anos de existência.
O prêmio é oferecido pela ADVB-PR (Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil - Paraná), às empresas que realizam trabalhos consistentes e inovadores envolvendo suas marcas, produtos e/ou serviços.
O case vencedor do Top de Marketing 2008 foi o da Araucária TC, na categoria Veículos e Mercado Automobilístico. A Araucária TC é cliente da Duet Marketing desde 2006.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Brasil entra para lista dos 10 maiores em banda larga

Fonte: http://www.estadao.com.br/tecnologia

SÃO PAULO - O Brasil entrou para o ranking dos dez maiores países em número de usuários de banda larga no terceiro trimestre deste ano, segundo estudo do instituto Point Topic.

A empresa de pesquisas mostrou que, no período entre julho e setembro, a China ultrapassou os Estados Unidos pela primeira vez, com 80,9 milhões de clientes ante os 78,7 milhões dos Estados Unidos, enquanto o Brasil, que ocupava a 11a posição, avançou um degrau, com 9,1 milhões de assinantes (eram 8,49 milhões no trimestre anterior).

Em estimativas para 2013, o Point Topic acredita que a China se distancie ainda mais da segunda colocada em 2013, com 153 milhões de clientes ante os 117 milhões dos Estados Unidos.

A pesquisa prevê que a recessão econômica afete os índices de crescimento da Internet nos países mais industrializados, mas tenha menos efeito nas economias emergentes.

"China, Brasil, Rússia e Vietnã devem ser pouco afetados, enquanto a Índia deve elevar seu relativamente baixo índice de penetração de banda larga, mesmo na recessão", disse relatório da Point Topic divulgado à imprensa.

O Brasil, de acordo com a expectativa, poderá ultrapassar países como Coréia do Sul, Itália e Rússia até 2013 e se manter entre os 10 maiores.

Os índices de crescimento da banda larga em todo o mundo, entretanto, sofrerão os efeitos da crise e serão menores que os registrados entre 2004 e 2008.

O instituto projeta que o mundo adicione 273 milhões de conexões de alta velocidade até 2013, chegando naquele ano a um total de 683 milhões de assinaturas de banda larga, ante os 410 milhões deste ano.

Tal salto equivale a uma taxa anual média de crescimento de 10,8 por cento, enquanto no período de 2004 a 2008 ela foi de 27,7 por cento ao ano.


(Texto de Taís Fuoco)

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Tangerine-Girl - Um dos cem melhores contos brasileiros do século XX

Considerado um dos cem melhores contos brasileiros do século, o texto de Rachel de Queiroz, abaixo transcrito, foi extraído do livro “O melhor da crônica brasileira”, José Olympio Editora – Rio de Janeiro, 1997, pág. 47.

De princípio a interessou o nome da aeronave: não "zepelim" nem dirigível, ou qualquer outra coisa antiquada; o grande fuso de metal brilhante chamava-se modernissimamente blimp. Pequeno como um brinquedo, independente, amável. A algumas centenas de metros da sua casa ficava a base aérea dos soldados americanos e o poste de amarração dos dirigíveis. E de vez em quando eles deixavam o poste e davam uma volta, como pássaros mansos que abandonassem o poleiro num ensaio de vôo. Assim, de começo, aos olhos da menina, o blimp existia como uma coisa em si — como um animal de vida própria; fascinava-a como prodígio mecânico que era, e principalmente ela o achava lindo, todo feito de prata, igual a uma jóia, librando-se majestosamente pouco abaixo das nuvens. Tinha coisas de ídolo, evocava-lhe um pouco o gênio escravo de Aladim. Não pensara nunca em entrar nele; não pensara sequer que pudesse alguém andar dentro dele. Ninguém pensa em cavalgar uma águia, nadar nas costas de um golfinho; e, no entanto, o olhar fascinado acompanha tanto quanto pode águia e golfinho, numa admiração gratuita — pois parece que é mesmo uma das virtudes da beleza essa renúncia de nós próprios que nos impõe, em troca de sua contemplação pura e simples.

Os olhos da menina prendiam-se, portanto, ao blimp sem nenhum desejo particular, sem a sombra de uma reivindicação. Verdade que via lá dentro umas cabecinhas espiando, mas tão minúsculas que não davam impressão de realidade — faziam parte da pintura, eram elemento decorativo, obrigatório como as grandes letras negras U. S. Navy gravadas no bojo de prata. Ou talvez lembrassem aqueles perfis recortados em folha que fazem de chofer nos automóveis de brinquedo.

O seu primeiro contato com a tripulação do dirigível começou de maneira puramente ocasional. Acabara o café da manhã; a menina tirara a mesa e fora à porta que dá para o laranjal, sacudir da toalha as migalhas de pão. Lá de cima um tripulante avistou aquele pano branco tremulando entre as árvores espalhadas e a areia, e o seu coração solitário comoveu-se. Vivia naquela base como um frade no seu convento — sozinho entre soldados e exortações patrióticas. E ali estava, juntinho ao oitão da casa de telhado vermelho, sacudindo um pano entre a mancha verde das laranjeiras, uma mocinha de cabelo ruivo. O marinheiro agitou-se todo com aquele adeus. Várias vezes já sobrevoara aquela casa, vira gente embaixo entrando e saindo; e pensara quão distantes uns dos outros vivem os homens, quão indiferentes passam entre si, cada um trancado na sua vida. Ele estava voando por cima das pessoas, vendo-as, espiando-as, e, se algumas erguiam os olhos, nenhuma pensava no navegador que ia dentro; queriam só ver a beleza prateada vogando pelo céu.

Mas agora aquela menina tinha para ele um pensamento, agitava no ar um pano, como uma bandeira; decerto era bonita — o sol lhe tirava fulgurações de fogo do cabelo, e a silhueta esguia se recortava claramente no fundo verde-e-areia. Seu coração atirou-se para a menina num grande impulso agradecido; debruçou-se à janela, agitou os braços, gritou: "Amigo!, amigo!"— embora soubesse que o vento, a distância, o ruído do motor não deixariam ouvir-se nada. Ficou incerto se ela lhe vira os gestos e quis lhe corresponder de modo mais tangível. Gostaria de lhe atirar uma flor, uma oferenda. Mas que podia haver dentro de um dirigível da Marinha que servisse para ser oferecido a uma pequena? O objeto mais delicado que encontrou foi uma grande caneca de louça branca, pesada como uma bala de canhão, na qual em breve lhe iriam servir o café. E foi aquela caneca que o navegante atirou; atirou, não: deixou cair a uma distância prudente da figurinha iluminada, lá embaixo; deixou-a cair num gesto delicado, procurando abrandar a força da gravidade, a fim de que o objeto não chegasse sibilante como um projétil, mas suavemente, como uma dádiva.

A menina que sacudia a toalha erguera realmente os olhos ao ouvir o motor do blimp. Viu os braços do rapaz se agitarem lá em cima. Depois viu aquela coisa branca fender o ar e cair na areia; teve um susto, pensou numa brincadeira de mau gosto — uma pilhéria rude de soldado estrangeiro.Mas quando viu a caneca branca pousada no chão, intacta, teve uma confusa intuição do impulso que a mandara; apanhou-a, leu gravadas no fundo as mesmas letras que havia no corpo do dirigível: U. S. Navy. Enquanto isso, o blimp, em lugar de ir para longe, dava mais uma volta lenta sobre a casa e o pomar. Então a mocinha tornou a erguer os olhos e, deliberadamente dessa vez, acenou com a toalha, sorrindo e agitando a cabeça. O blimp fez mais duas voltas e lentamente se afastou — e a menina teve a impressão de que ele levava saudades. Lá de cima, o tripulante pensava também — não em saudades, que ele não sabia português, mas em qualquer coisa pungente e doce, porque, apesar de não falar nossa língua, soldado americano também tem coração.

Foi assim que se estabeleceu aquele rito matinal. Diariamente passava o blimp e diariamente a menina o esperava; não mais levou a toalha branca, e às vezes nem sequer agitava os braços: deixava-se estar imóvel, mancha clara na terra banhada de sol. Era uma espécie de namoro de gavião com gazela: ele, fero soldado cortando os ares; ela, pequena, medrosa, lá embaixo, vendo-o passar com os olhos fascinados. Já agora, os presentes, trazidos de propósito da base, não eram mais a grosseira caneca improvisada; caíam do céu números da Life e da Time, um gorro de marinheiro e, certo dia, o tripulante tirou do bolso o seu lenço de seda vegetal perfumado com essência sintética de violetas. O lenço abriu-se no ar e veio voando como um papagaio de papel; ficou preso afinal nos ramos de um cajueiro, e muito trabalho custou à pequena arrancá-lo de lá com a vara de apanhar cajus; assim mesmo ainda o rasgou um pouco, bem no meio.

Mas de todos os presentes o que mais lhe agradava era ainda o primeiro: a pesada caneca de pó de pedra. Pusera-a no seu quarto, em cima da banca de escrever. A princípio cuidara em usá-la na mesa, às refeições, mas se arreceou da zombaria dos irmãos. Ficou guardando nela os lápis e canetas. Um dia teve idéia melhor e a caneca de louça passou a servir de vaso de flores. Um galho de manacá, um bogari, um jasmim-do-cabo, uma rosa menina, pois no jardim rústico da casa de campo não havia rosas importantes nem flores caras.

Pôs-se a estudar com mais afinco o seu livro de conversação inglesa; quando ia ao cinema, prestava uma atenção intensa aos diálogos, a fim de lhes apanhar não só o sentido, mas a pronúncia. Emprestava ao seu marinheiro as figuras de todos os galãs que via na tela, e sucessivamente ele era Clark Gable, Robert Taylor ou Cary Grant. Ou era louro feito um mocinho que morria numa batalha naval do Pacífico, cujo nome a fita não dava; chegava até a ser, às vezes, careteiro e risonho como Red Skelton. Porque ela era um pouco míope, mal o vislumbrava, olhando-o do chão: via um recorte de cabeça, uns braços se agitando; e, conforme a direção dos raios do sol, parecia-lhe que ele tinha o cabelo louro ou escuro.

Não lhe ocorria que não pudesse ser sempre o mesmo marinheiro. E, na verdade, os tripulantes se revezariam diariamente: uns ficavam de folga e iam passear na cidade com as pequenas que por lá arranjavam; outros iam embora de vez para a África, para a Itália. No posto de dirigíveis criava-se aquela tradição da menina do laranjal. Os marinheiros puseram-lhe o apelido de "Tangerine-Girl". Talvez por causa do filme de Dorothy Lamour, pois Dorothy Lamour é, para todas as forças armadas norte-americanas, o modelo do que devem ser as moças morenas da América do Sul e das ilhas do Pacífico. Talvez porque ela os esperava sempre entre as laranjeiras. E talvez porque o cabelo ruivo da pequena, quando brilhava á luz da manhã, tinha um brilho acobreadao de tangerina madura. Um a um, sucessivamente, como um bem de todos, partilhavam eles o namoro com a garota Tangerine. O piloto da aeronave dava voltas, obediente, voando o mais baixo que lhe permitiam os regulamentos, enquanto 0 outro, da janelinha, olhava e dava adeus.

Não sei por que custou tanto a ocorrer aos rapazes a idéia de atirar um bilhete. Talvez pensassem que ela não os entenderia. Já fazia mais de um mês que sobrevoavam a casa, quando afinal o primeiro bilhete caiu; fora escrito sobre uma cara rosada de rapariga na capa de uma revista: laboriosamente, em letras de imprensa, com os rudimentos de português que haviam aprendido da boca das pequenas, na cidade: "Dear Tangeríne-Gírl. Please você vem hoje (today) base X. Dancing, show. Oito horas P.M." E no outro ângulo da revista, em enormes letras, o "Amigo", que é a palavra de passe dos americanos entre nós.

A pequena não atinou bem com aquele "Tangerine-Girl". Seria ela? Sim, decerto... e aceitou o apelido, como uma lisonja. Depois pensou que as duas letras, do fim: "P.M.", seriam uma assinatura. Peter, Paul, ou Patsy, como o ajudante de Nick Carter? Mas uma lembrança de estudo lhe ocorreu: consultou as páginas finais do dicionário, que tratam de abreviaturas, e verificou, levemente decepcionada, que aquelas letras queriam dizer "a hora depois do meio-dia".

Não pudera acenar uma resposta porque só vira o bilhete ao abrir a revista, depois que o blimp se afastou. E estimou que assim o fosse: sentia-se tremendamente assustada e tímida ante aquela primeira aproximação com o seu aeronauta. Hoje veria se ele era alto e belo, louro ou moreno. Pensou em se esconder por trás das colunas do portão, para o ver chegar - e não lhe falar nada. Ou talvez tivesse coragem maior e desse a ele a sua mão; juntos caminhariam até a base, depois dançariam um fox langoroso, ele lhe faria ao ouvido declarações de amor em inglês, encostando a face queimada de sol ao seu cabelo. Não pensou se o pessoal de casa lhe deixaria aceitar o convite. Tudo se ia passando como num sonho — e como num sonho se resolveria, sem lutas nem empecilhos.

Muito antes do escurecer, já estava penteada, vestida. Seu coração batia, batia inseguro, a cabeça doía um pouco, o rosto estava em brasas. Resolveu não mostrar o convite a ninguém; não iria ao show; não dançaria, conversaria um pouco com ele no portão. Ensaiava frases em inglês e preparava o ouvido para as doces palavras na língua estranha. Às sete horas ligou o rádio e ficou escutando languidamente o programa de swings. Um irmão passou, fez troça do vestido bonito, naquela hora, e ela nem o ouviu. Às sete e meia já estava na varanda, com o olho no portão e na estrada. Às dez para as oito, noite fechada já há muito, acendeu a pequena lâmpada que alumiava o portão e saiu para o jardim. E às oito em ponto ouviu risadas e tropel de passos na estrada, aproximando-se.

Com um recuo assustado verificou que não vinha apenas o seu marinheiro enamorado, mas um bando ruidoso deles. Viu-os aproximarem-se, trêmula. Eles a avistaram, cercaram o portão — até parecia manobra militar —, tiraram os gorros e foram se apresentando numa algazarra jovial.

E, de repente, mal lhes foi ouvindo os nomes, correndo os olhos pelas caras imberbes, pelo sorriso esportivo e juvenil dos rapazes, fitando-os de um em um, procurando entre eles o seu príncipe sonhado — ela compreendeu tudo. Não existia o seu marinheiro apaixonado — nunca fora ele mais do que um mito do seu coração. Jamais houvera um único, jamais "ele" fora o mesmo. Talvez nem sequer o próprio blimp fosse o mesmo...

Que vergonha, meu Deus! Dera adeus a tanta gente; traída por uma aparência enganosa, mandara diariamente a tantos rapazes diversos as mais doces mensagens do seu coração, e no sorriso deles, nas palavras cordiais que dirigiam à namorada coletiva, à pequena Tangerine-Girl, que já era uma instituição da base — só viu escárnio, familiaridade insolente... Decerto pensavam que ela era também uma dessas pequenas que namoram os marinheiros de passagem, quem quer que seja... decerto pensavam... Meu Deus do Céu!

Os moços, por causa da meia-escuridão, ou porque não cuidavam naquelas nuanças psicológicas, não atentaram na expressão de mágoa e susto que confrangia o rostinho redondo da amiguinha. E, quando um deles, curvando-se, lhe ofereceu o braço, viu-a com surpresa recuar, balbuciando timidamente:

— Desculpem... houve engano... um engano...

E os rapazes compreenderam ainda menos quando a viram fugir, a princípio lentamente, depois numa carreira cega. Nem desconfiaram que ela fugira a trancar-se no quarto e, mordendo o travesseiro, chorou as lágrimas mais amargas e mais quentes que tinha nos olhos.

Nunca mais a viram no laranjal; embora insistissem em atirar presentes, viam que eles ficavam no chão, esquecidos — ou às vezes eram apanhados pelos moleques do sítio.


Rachel de Queiroz,uma das mais importantes escritoras brasileiras, nasceu em Fortaleza - CE, no dia 17 de novembro de 1910. Entre muitas de suas obras podem-se citar: O Quinze,Caminhos de Pedra;A Donzela e a Moura Torta;As Três Marias;O Menino Mágico; Dôra, Doralina; Memorial de Maria Moura. Faleceu, dormindo em sua rede, no dia 04-11-2003, na cidade do Rio de Janeiro.