No dia 24 de agosto de 2006, me encontrava em Flagstaff, Arizona, visitando o Observatório Lowell. Por uma dessas razões, que a própria razão desconhece, quis o destino que esse fosse o dia no qual a União Astronômica Internacional decidira pela exclusão de Plutão da lista de planetas do Sistema Solar. Justamente, naquela noite limpa e estrelada, cerca de 2.500 especialistas estavam reunidos em Praga, do outro lado do mundo, para decidir o destino de Plutão; e eu, ali, olhando pelo mesmo telescópio que, em 1930, auxiliara na descoberta do, então, 9º planeta do Sistema Solar.
Antes de continuar essa história, é necessário explicar algumas coisas a meu respeito. Amo o céu e as estrelas. Cresci em Brasília, no meio do Planalto Central. Garanto ao leitor que, no Brasil, céu mais lindo não há. O manto negro da noite, salpicado de luzinhas brilhantes, embalou meus sonhos de menina, meus desejos adolescentes e meus anseios de mulher. O mistério do infinito sempre exerceu especial fascínio sobre mim. Quando pequena, um de meus programas favoritos era ir ao Planetário de Brasília, nos fins de semana, e viajar ao espaço sideral - mesmo que fosse de mentirinha. Já vi até lançamento de foguete, ao vivo, pela janela do hotel, em Cabo Kennedy, hoje, Canaveral.
Quando morei nos Estados Unidos, acompanhei, com muito interesse, o lançamento do ônibus espacial Challenger, que se desintegrou 73 segundos após o lançamento, matando toda a tripulação, inclusive a primeira professora a participar de uma missão espacial, Christa MacAuliffe, fato que muito me chocou à época. E, adivinhem qual era o meu programa favorito de fins de semana e feriados... visitar o mais espetacular, o mais incrível museu dentre todos os museus maravilhosos que Washington acolhe: o National Air and Space Museum. Naves espaciais de verdade, fragmentos da lua (!!!), comidinhas de astronauta, planetário, toda a história das loucas tentativas do homem viajar pelo espaço, as descobertas científicas, o desenvolvimento da engenharia, da astronomia, isso sem contar toda a história da aviação, dos homens incríveis e suas maravilhosas máquinas de voar. A esta altura, acredito não espantar mais ninguém o fato de eu ter querido ser astronauta.
Neste ano de 2009, além de comemorarmos 40 anos da chegada do homem à lua, a UNESCO e a União Astronômica Internacional decidiram dedicar o ano à Astronomia, em homenagem a Galileu, que há 400 anos atrás apontou um telescópio para os céus e mudou a história da humanidade, afirmando e defendendo que a Terra não era o centro do univesrso. Por causa de suas descobertas, quase morreu queimado nas fogueiras da inquisição. Ah, essa Igreja, sempre fazenda das suas...Pois bem, chegamos ao ponto principal deste artigo: a negação da ciência.
Há exatos dois anos precisei ir tomar satisfações no ( hoje antigo) colégio da minha filha, por que o professor de ciências (?!) havia dito, em sala de aula, para aquelas crianças de sexta série, que o homem não havia ido à lua - que essa história era uma invenção americana da época da Guerra Fria. Caso de polícia. Se fosse em outro país, esse cidadão teria sido demitido sumariamente do colégio. Aqui, não: continua lá prestando um péssimo serviço à sociedade.
Adiantando um pouco o filme, acompanhei, na semana passada, a cobertura medíocre que a imprensa brasileira conseguiu dar aos 40 anos da chegada do homem à lua, em meio a escândalos de SirNey e seus comparsas. Fiquei chocada com o pouco caso e também com as 'opiniões' dos 'entendidos' que escreveram para as 'cartas dos leitores' do jornal local e sites da internet. Inacreditável!
Pensando melhor, não sei o motivo de ter ficado tão chocada com a negação da ciência. Um país que trata a educação e a ciência do jeito que o Brasil trata, só merece mesmo essa qualidade inferior de cidadãos. É próprio das sociedades atrasadas, que nada produzem, que não fazem nunca a diferença, um alto grau de obscurantismo. É mais fácil um brasileiro acreditar no Saci Pererê e na Mula-Sem-Cabeça do que em um homem ter pisado na lua.
segunda-feira, 20 de julho de 2009
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