segunda-feira, 16 de março de 2009

Ao vencedor, nadica de nada

Culturalmente, não somos um povo adepto ao mérito. Temos verdadeira paúra a ter que competir para merecer o que quer que seja: uma vaga na universidade, uma posição melhor na empresa que trabalhamos ou até mesmo um aumento no salário do fim do mês. Competir, para nós, tornou-se a raiz de todo o mal, e, merecer, virou direito adquirido.


Afinal, competir para quê? Fazemos parte de "um povo sofrido, alegre e boa gente", que faz samba sobre suas desgraças, ri das próprias contravenções, zomba dos honestos, protege bandidos e reelege, seguidamente, corruptos, em troca de pequenos favores.


Um povo assim, tão especial, não merece ter que se submeter a uma prova de conhecimentos para entrar na universidade, um concurso eliminatório para assumir uma vaga em instituições públicas ou ser avaliado em sua produtividade para subir na carreira. Não... Merecemos mesmo é ser indicados ou nomeados, por decreto.


Temos até uma expressão, que se tornou bem popular nos últimos anos, aquela mesma, "ninguém merece", que é usada para expressar o nosso sentimento de insatisfação ou de injustiça quando algo nos é exigido além daquilo que estamos dispostos a oferecer de bom grado - tempo, paciência, ou o que quer que seja. Note-se que a expressão é politicamente corretíssima: não sou eu (o egoísta) quem não merece, mas sim, ninguém merece. Até nisso somos generosos...


Merecimento, aqui, também é sinônimo de punição - como naquela nossa velha e bem conhecida outra expressão, vingativa, mesquinha e invejosa- "bem que mereceu" - geralmente vociferada quando alguém bem-sucedido se dá mal.


Nas escolas não se pode reconhecer que um professor seja melhor do que outro - isso não é justo com o coitado que ganha pouco, mora mal e que, por isso, dizem, é mau profissional, adepto da lei do menor esforço e não cumpre sua obrigação de ensinar.


Uma criança não pode se destacar e ser melhor do que outras, nem em sala de aula, nem nos esportes, nem em nada. Logo surge o exército de guardiões da mediocridade, sempre de prontidão, para reprimir os talentos e as inteligências. Não é aceitável termos uma sociedade competitiva. Os nossos "educadores", politicamente corretos, em seu próprio favor, são os guardiões contra qualquer tipo de competição - não seria saudável emocionalmente para uma criança ter que competir para se destacar. Nossos "educadores" preferem perpetuar o jogo do ninguém é melhor que ninguém, porque, assim, estão sempre protegidos pelo manto da mediocridade. Aliás, esse também é o discurso preferido de outros "segmentos da sociedade".


Em nome da "justiça social", nivelamos todos e tudo sempre por baixo. Exigimos cada vez menos; protegemos e premiamos o incapaz, o ineficiente e o pouco esforçado, e deixamos de reconhecer os verdadeiros talentos, aqueles que fazem a diferença por onde quer que passem.


As conquistas individuais - na maioria das vezes patrocinadas unicamente por esforço e dinheiro próprios daqueles que nunca foram reconhecidos pela sua pátria amada, Brasil - são imediatamente tomadas do vencedor como sendo de todos, do povo brasileiro (tão sofrido, blá,blá,blá). Depois do momento de glória, mais uma vez o esquecimento. Os exemplos são tantos e tão tristes que me pouparei de apontá-los.



Não somos todos iguais. Alguns de nós são e sempre serão melhores e mais capazes do que outros. Ainda bem!