Era mesmo de se espantar que no País do Futebol não houvesse um Museu do Futebol. Mas o Brasil é cheio de paradoxos complexos e esse era só mais um deles. Felizmente, para a alegria de tantos fanáticos pelo esporte bretão, em terras tropicais, esse probleminha foi resolvido, há alguns meses, com a inauguração do museu dedicado aos nossos heróis da bola e seus momentos de glória.
Confesso que sou uma convertida. Tendo sido criada na Brasília dos candangos, não posso dizer que cresci amaaando futebol.Estádio, decente, não havia (pelo menos, que me lembre); times com alguma projeção nacional, muito menos. No máximo uma domingueira entre Gama e Taguatinga...
Meu pai, vascaíno, saudoso de seu Rio de Janeiro natal, terra de Maracanã lotado aos domingos, nos submetia à tortura de ouvir pelo rádio do Maverick (sem ar-condicionado, com as janelas semi-cerradas para não entrar o poeirão, num calor infernal do meio do cerrado), as partidas do Vasco enquanto voltávamos da fazenda de meu avô, nos fins de tardes de domingo (oh, céus!).
No interior de Goiás, como bem podem imaginar, não se conseguia sintonizar nenhuma rádio - o que tornava a experiência um tanto quanto instável, por assim dizer, cheia de ruídos, interrupções nas narrações e muita reclamação por parte dos passageiros. Enfim, uma verdadeira visão do inferno, uma tortura psicológica da qual até hoje não me recuperei.
Voltando à minha conversão, após ter casado com um Atleticano doente (Atlético Paranaense, que fique bem claro), que veio de uma família de doentes, e depois de ter um filho também doente por futebol, nada mais natural do que se entregar por bem às delícias do esporte.
Hoje em dia, já posso dizer que sou veterana dos campos, daquelas que têm carteira de sócia e camisa; que canta o hino do Clube e aquelas musiquinhas infames que se aproveitam da melodia de grupos famosos; xinga a mãe dos outros, o juiz e, claro, sua mãe também.
Por essas e outras, no último fim-de-semana, aquele mesmo do último post sobre o Deep Purple, aproveitamos a viagem a São Paulo para conhecer o Museu do Futebol. No início tive um pouco de receio de ir ao Pacaembú na véspera de Corínthians e Palmeiras, mas, obviamente, fui voto vencido.
Tenho que recomendar: mesmo que você não seja um entusiasta do esporte, se tiver uma oportunidade de conhecer o museu, não a deixe passar. É um programa super legal para fazer com a namorada, com o maridão e, claro, com as crianças.
O museu é high-tech e também interativo. Todos os craques brasileiros, de todos os tempos, estão representados ali. Imagens de todos os tipos, em profusão; arquivos de áudio desde o início do século passado - imagine, tem até o Ari Barroso narrando, pelo rádio, uma partida de futebol! Aliás, nas reproduções das cabines de rádio, com dial e tudo, você pode escolher o narrador entre tantos famosos, como Osmar Santos, José Carlos Araújo, etc. e ouvir as mais emocionantes ou criativas narrações - muitas das quais entraram para a história do futebol brasileiro e enriqueceram o nosso idioma com palavras ou expressões singulares. Me diverti muito com a origem de palavras como 'gandula' ou 'domingada', ou com o significado de expressões como 'deu zebra' ou 'folha seca'. Espetacular!
Podem imaginar a emoção que é poder ver 1.000.000 de vezes (se quiser, claro)as jogadas extraordinárias do Pelé; reviver as emoções de Copas passadas, quando, com os olhos grudados na TV, sofremos de tristeza com lances perdidos e pênaltis fatais ou vibramos de alegria com gols perfeitos e jogadas de mestres.
Depois de uma experiência como essa, já não se pode mais negar o quanto o futebol faz parte da história do Brasil e da história de cada brasileiro. Somos mesmo uma pátria das chuteiras.
Para saber mais: www.museudofutebol.org.br