In un placete de La Mancha of which nombre no quiero remembrearme, vivía, not so long ago, uno de esos gentlemen who always tienen una lanza in the rack, una buckler antigua, a skinny caballo y un grayhound para el chase. Quem é familiarizado com os livros sabe tratar-se de um trecho de um dos maiores clássicos da literatura mundial: Don Quijote de La Mancha.
Êpa, espera aí, mas em que raios de língua está traduzido Cervantes? Um insulto a língua espanhola? Ou uma maneira rápida e eficiente de comunicação? E é aqui que começa a confusão.
As raízes do que hoje se conhece como Spanglish pode ser tão antiga quanto o Tratado de Guadalupe Hidalgo, em 1848, quando o México perdeu quase 2/3 de seu território para os Estados Unidos - detalhe importante: a população se foi com as terras. Quem conta essa história, baseada em pesquisas a respeito do assunto, é o professor Ilán Stavans em seu livro Spanglish: The Making of a New American Language, ainda sem tradução no Brasil. Stavans é professor do primeiro curso universitário de Spanglish na Amhearst University, em Massachusetts.
O Spanglish é uma mistura do espanhol com o inglês, como já se deve ter percebido. Entretanto, o mais curioso da história é que o que parece uma combinação aleatória de palavras escolhidas ao acaso, nos dois idiomas, é, na verdade, uma estratégia de comunicação. Quando um latino, morador do Bronx, diz: 'Te llamo para atrás' no lugar de 'I call you back' (numa tradução literal!) tem certeza de que será compreendido e isso, por si só, já é um grande indício de que a comunicação ocorreu sem ruído. Ou seja, para os participantes do processo de comunicação não há o estranhamento por conta da mistura de palavras em espanhol e inglês.
Em comunicação, chamamos esse processo de code-switch, ou troca de códigos. A troca de códigos, nesse caso, ocorre entre dois idiomas distintos, mas que fazem parte da mesma 'família', ou seja, a dos códigos linguísticos. É importante frisar que fazemos o code-switch constantemente e esse é um dos motivos que fazem com que a comunicação seja um processo fundamentalmente semiótico. Explico.
A capacidade humana de significar, de dar um sentido às coisas não é limitada pelos códigos, mas, sim, influenciada por eles - já que códigos são meios de transporte nos quais as mensagens vão e vem. A mensagem, que viaja para lá e para cá, seja em forma de palavras ou de imagens ou de fenômenos, não importa sua natureza, é transportada e transformada pelos códigos, mas o passo definitivo para sua compreensão é a interpretação e posterior significação que o receptor conferirá a ela.
No caso do Spanglish, quando um falante mistura os códigos linguísticos e tem certeza de que será entendido, ele conta com um outro fator que é o prévio conhecimento (ou será reconhecimento?) do código cultural que o aproxima do receptor da mensagem. Ser latino nos Estados Unidos significa muitas coisas que esses dois interlocutores simplesmente sabem. É o tal código não-escrito. A partir daí surgem mil e uma possibilidades não só de criação de novos símbolos (palavras incluídas!), como de novas significações.
Aliás, outra estratégia dos falantes do Spanglish é justamente criar novas palavras, como: rufo (que vem de roof, teto, em inglês), carpeta (carpet, em inglês e folder, em espanhol), ou parquear ( de to park, em inglês, quando o correto, em espanhol é estacionar). A lista de palavras é imensa e muito curiosa.
Tenho muito a dizer ainda sobre o Spanglish e também sobre novas línguas que têm surgido nesses tempos de globalização e internet, mas, hoje, fico por aqui.
2 comentários:
Patricia, concordo com toda a sua explicacao, mas, eu fico super incomodada ao ouvir estas expressoes em Spanglish. E as expressoes em Portenglish? Let me know eh um exemplo: os brasileiros no exterior adoram falar "Deixa-me saber" como se tivesse o mesmo sentido da expressao em ingles. Alem deste, tem PRINTAR, PARQUEAR, APLICAR (no sentido de inscrever-se - APPLY), etc. Acho que, com isso, acabamos nao falando bem nem uma lingua, nem outra.
Denise,
No fundo, no fundo, temos uma tendência a ser conservadores em relação ao nosso idioma nativo. Até mesmo as diferenças regionais e as gírias, em nossa própria língua, nos ferem os ouvidos.
Não pense que a mim, que me considero muito aberta às novidades e curiosa na mesma proporção, o Spanglish não causa estranheza. Causa sim, e muita. Entretanto, não podemos nem deixar de lado e nem minimizar um fenômeno de tamanho impacto e proporção. Como profissional de comunicação que sou, tenho a obrigação (mas nesse caso também a vontade)de tentar estudar e entender melhor essas novas linguagens e línguas que parecem se multiplicar exponencialmente nesses tempos de internet e convergência dos meios de comunicação. Talvez, em um tempo não muito distante, a tudo o que conhecemos até então em termos de línguas e linguagens se juntem tantas outras coisas que nem sequer sabíamos ser possível existir. Pense nas línguas da internet - sinais gráficos totalmente resignificados, transformados em wikis que se misturam a palavras entrecortadas, abreviadas (alías, já escrevi aqui sobre isso).
Por se tratarem de organismos vivos, as línguas não estão imunes à passagem do tempo e a todas as consequências que isso traz. Junte-se a isso o fato de a imaginação e a inventividade humanas não terem limites e está criado o cenário perfeito para as transformações acontecerem.
Centenas e centenas de palavras que usamos, atualmente, no Português, vieram de outros idiomas e tiveram os significados totalmente alterados pelo tempo e pelo uso- e isso é comum a todas as línguas.
Não podemos esquecer de considerar que foi o latim, em sua forma popular, alterada,deturpada e grosseira frente à língua falada em Roma que tornou-se a mãe de tantas línguas românticas.
Obrigada pelo comentário.Suas contribuições serão sempre muito bem vindas.
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