quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Recebi, há pouco, um email muito especial de uns amigos americanos que moram em Baton Rouge, Louisiana. Conheci Rich há alguns anos por motivos profissionais, mas, por razões que não nos cabe entender ou explicar, nos tornamos amigos. Uma amizade serena, com troca de alguns emails ao ano, sem muita conversa jogada fora ou grandes efusividades. O tempo foi trazendo para perto de mim sua mulher Denese, seus filhos, sogra, e, mais recentemente, Kellan - uma linda criança, neto de Rich e Denese, que vem a ser half American and half Korean, como gostam de enfatizar.

Todos os anos, pela ocasião do Natal, Rich e Denese enviam a seus amigos e família uma longa carta contando, resumidamente, como passaram o ano: as conquistas - deles e dos filhos -, os percalços, as novidades... Ah, claro, com pitadas de humor e com fotos, muitas fotos. Todos os anos, também, me pego lendo a mensagem com um nó na garganta e lágrimas nos olhos.

A vida que Rich e Denese me contam é cotidiana, de acontecimentos corriqueiros, como um aniversário, um mal-estar, a nota de uma prova ou uma viagem de fim-de-semana; enfim, aquela vida que a maioria das pessoas não gastaria parágrafos e parágrafos só para manter os outros informados - aliás, tenho a impressão que mal e mal escreveriam uma notinha de rodapé.

Parei para pensar por uns instantes por que sempre me emociono quando recebo a tradicional carta/ email de Rich e Denese. Me dei conta de que minhas lágrimas não são lágrimas bobas - bem próprias desta época de festas de fim-de-ano. Não. São, sim, lágrimas de gratidão. Sou grata por ser escolhida a compartilhar, com eles, a vida.

Nas palavras de Vinícius de Morais, em Poema de Natal*:

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos —
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos —
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai —
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte —
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

* Poema extraído do livro "Antologia Poética", Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1960, pág. 147.

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